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213 - O Evangelho Segundo Espiritismo - Introdução

PREFÁCIO

Os Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos céus, como um imenso exército que se movimenta desde que dele recebeu o comando, espalham-se sobre toda a superfície da Terra; semelhantes às estrelas cadentes, vêm iluminar o caminho e abrir os olhos aos cegos.

Eu vos digo, em verdade, são chegados os tempos em que todas as coisas devem ser restabelecidas em seu sentido verdadeiro para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos.

As grandes vozes do céu ressoam como o som da trombeta, e os coros dos anjos se reúnem. Homens, nós vos convidamos ao concerto divino; que vossas mãos tomem a lira; que vossas vozes se unam, e que num hino sagrado se estendam e vibrem de uma extremidade a outra do Universo.

Homens, irmãos a quem amamos, estamos junto de vós; amai- vos também uns aos outros, e dizei do fundo do vosso coração, fazendo as vontades do Pai que está no céu: “Senhor! Senhor!” e podereis entrar no reino dos céus.

O Espírito de Verdade

 

INTRODUÇÃO

I - OBJETIVO DESTA OBRA

Podem dividir-se as matérias contidas nos Evangelhos em cinco partes: os atos comuns da vida do Cristo, os milagres, as profecias, as palavras que serviram para o estabelecimento dos dogmas da Igreja e o ensinamento moral. Se as quatro primeiras partes foram objeto de controvérsias, a última manteve-se inatacável. Diante desse código divino a própria incredulidade se inclina; é o terreno onde todos os cultos podem se reencontrar, a bandeira sob a qual todos podem se abrigar, quaisquer que sejam suas crenças, porque jamais foi objeto de disputas religiosas, sempre e por toda parte levantadas pelas questões de dogma; aliás, discutindo-as, as seitas encontrariam aí sua própria condenação, porque a maioria está mais interessada na parte mística do que na parte moral que exige a reforma de si mesmo. Para os homens em particular, é uma regra de conduta abrangendo todas as circunstân cias da vida, privada ou pública, o princípio de todas as relações sociais fundadas sobre a mais rigorosa justiça; é, enfim, e acima de tudo, o caminho infalível da felicidade esperada, um canto do véu levantado sobre a vida futura. É esta parte o objeto exclusivo desta obra.

Todo o mundo admira a moral evangélica; cada um proclama-lhe a sublimidade e a necessidade, mas muitos o fazem confiantes, sobre o que dela ouviram dizer, ou sobre a fé originada de algumas máximas que se tornaram proverbiais; mas poucos a conhecem a fundo, menos ainda a compreendem e sabem deduzir suas conseqüências. A razão disso está, em grande parte, na dificuldade que apresenta a leitura do Evangelho, ininteligível para a maioria. A forma alegórica, o misticismo intencional da linguagem, fazem com que a maioria o leia por desencargo de consciência e por dever, como lêem as preces sem as compreender, quer dizer, infrutiferamente. Os preceitos de moral disseminados aqui e ali, confundidos na massa de outras narrações, passam desapercebidos; torna-se, então, impossível compreender-lhe o conjunto, e fazê-lo objeto de leitura e de meditação em separado.

Foram feitos, é verdade, tratados de moral evangélica, mas a adaptação ao estilo literário moderno rouba-lhes a ingenuidade primitiva que lhes dá, ao mesmo tempo, o encanto e a autenticidade. Ocorre o mesmo com as máximas isoladas, reduzidas à sua mais simples expressão proverbial; não são mais, então, que aforismos que perdem uma parte do seu valor e do seu interesse, pela ausência dos acessórios e das circunstâncias nas quais foram dadas.

Para evitar esses inconvenientes, reunimos nesta obra os artigos que podem constituir, propriamente falando, um código de moral universal, sem distinção de culto. Nas citações, conservamos tudo o que era útil ao desenvolvimento do pensamento, não eliminando senão as coisas estranhas ao assunto. Por outro lado, respeitamos escrupulosamente a tradução original de Sacy, assim como a divisão por versículos. Mas em lugar de nos prender a uma ordem cronológica impossível e sem vantagem real em semelhante assunto, as máximas foram agrupadas e classificadas metodicamente segundo sua natureza, de maneira que elas se deduzam, tanto quanto possível, umas das outras. A chamada dos números de ordem dos capítulos e dos versículos permite recorrer à classificação vulgar, julgando-se oportuno.

Não haveria aí senão um trabalho material que, por si só, não teria sido senão de uma utilidade secundária; o essencial era pô-lo ao alcance de todos, pela explicação das passagens obscuras, e o desenvolvimento de todas as conseqüências, tendo em vista a aplicação às diferentes posições da vida. Foi o que tentamos fazer com a ajuda dos bons Espíritos que nos assistem.

Muitos pontos do Evangelho, da Bíblia e dos autores sagrados em geral, não são inteligíveis, muitos mesmo não parecem irracionais senão pela falta de uma chave para compreender-lhes o verdadeiro sentido; essa chave está inteiramente no Espiritismo, como já se convenceram aqueles que o estudaram seriamente, e como ainda o reconhecerão melhor mais tarde. O Espiritismo encontra-se por toda parte na Antigüidade e em todas as épocas da Humanidade; por toda parte, se encontram seus vestígios nos escritos, nas crenças e sobre os monumentos; é por isso que, se ele abre horizontes novos para o futuro, derrama luz não menos viva sobre os mistérios do passado.

Como complemento de cada preceito, ajuntamos algumas instru- ções escolhidas entre as que foram ditadas pelos Espíritos, em diversos países, e por intermédio de diferentes médiuns. Se essas instruções tivessem saído de uma fonte única, elas teriam podido sofrer uma influência pessoal ou do meio, ao passo que a diversidade de origens prova que os Espíritos dão seus ensinamentos por toda parte, e que não há ninguém privilegiado a esse respeito (1).

Esta obra é para uso de todos; cada um nela pode achar os meios de conformar sua conduta à moral do Cristo. Os espíritas nela encontrarão, por outro lado, as aplicações que lhes concernem mais especial- mente. Graças às comunicações estabelecidas, de hoje em diante de um modo permanente, entre os homens e o mundo invisível, a lei evangélica, ensinada a todas as nações pelos próprios Espíritos, não será mais letra morta, porque cada um a compreenderá, e será incessantemente solicitado em praticá-la pelos conselhos dos seus guias espirituais. As instruções dos Espíritos são verdadeiramente as vozes do céu que vêm esclarecer os homens e convidá-los à prática do Evangelho.

(1) – Poderíamos, sem dúvida, dar sobre cada assunto um maior número de comunicações obtidas numa multidão de outras cidades e centros espíritas, além das que citamos; mas quisemos, antes de tudo, evitar a monotonia das repetições inúteis, e limitar nossa escolha às que, pelo fundo e pela forma, entrassem mais especialmente no quadro desta obra, reservando para as publicações ulteriores aquelas que não puderam achar lugar aqui. Quanto aos médiuns, abstivemo-nos de nomeá-los; para a maioria, não foram designados a seu pedido e, por conseguinte, não convinha fazer exceções. Aliás, os nomes dos médiuns não teriam acrescentado nenhum valor à obra dos Espíritos; não seria, pois, senão uma satisfação do amor-próprio, à qual os médiuns verdadeiramente sérios não se prendem de modo algum, pois compreendem que seu papel, sendo puramente passivo, o valor das comunicações não realça em nada seu mérito pessoal, e que seria pueril se envaidecer de um trabalho de inteligência ao qual não se presta senão um concurso mecânico.

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