Cap. 24, item 6 - Candeia sob o alqueire. Porque Jesus fala por parábolas
CANDEIA SOB O ALQUEIRE. POR QUE JESUS FALA POR PARÁBOLAS
6. Pergunta-se que proveito o povo poderia tirar dessa multidão de parábolas, cujo sentido ficou oculto para ele. Deve-se observar que Jesus não se exprimiu por parábolas, senão sobre as partes de alguma sorte abstratas de sua doutrina; mas tendo feito da caridade para com o próximo, e da humildade, a condição expressa de salvação, tudo o que disse a esse respeito está perfeitamente claro, explícito e sem ambigüidade. Devia ser assim, porque era a regra de conduta, regra que todo o mundo devia compreender para poder observá-la; era o essencial para a multidão ignorante à qual se limitava a dizer: Eis o que é preciso fazer para ganhar o reino dos céus. Sobre as outras partes, não desenvolvia seu pensamento senão aos seus discípulos; estando estes mais avançados, moral e intelectualmente, Jesus pudera iniciá-los nas verdades mais abstratas; por isso, ele disse: Àqueles que já têm, será dado ainda mais. (Cap. XVIII, nº 15).
Entretanto, mesmo com seus apóstolos, permaneceu reticente sobre muitos pontos, cuja completa inteligência estava reservada para tempos ulteriores. Foram esses pontos que deram lugar a interpretações tão di- versas, até que a Ciência de um lado, e o Espiritismo do outro, vieram re- velar as novas leis naturais que fizeram compreender seu verdadeiro sentido.
7. O Espiritismo vem hoje lançar luz sobre uma multidão de pontos obscuros; entretanto, não a lança inconsideradamente. Os Espíritos procedem nas suas instruções com uma admirável prudência; não foi senão sucessiva e gradualmente que abordaram as diversas partes conhecidas da doutrina e é assim que as outras partes serão reveladas à medida que o momento tenha chegado para fazê-las sair da sombra. Se a tivessem apresentado completa desde o início, ela não teria sido acessível senão a um pequeno número; teria mesmo assustado os que para isso não estavam preparados, o que teria prejudicado a sua propagação. Se, pois, os Espíritos não dizem ainda tudo ostensivamente, não é porque haja na doutrina mistérios reservados a privilegiados, nem que coloquem a candeia sob o alqueire, mas porque cada coisa deve vir no seu tempo oportuno; eles deixam a uma idéia o tempo de amadurecer e se propagar antes de apresentarem uma outra, e aos acontecimentos o de lhe preparar a aceitação.