268 - Cap. 5 - Bem Aventurados os Aflitos - Bem e Mal Sofrer
INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS
BEM E MAL SOFRER
18. Quando o Cristo disse: “Bem-aventurados os aflitos, que deles é o reino dos céus”, não se referia àqueles que sofrem em geral, porque todos aqueles que estão neste mundo sofrem, estejam sobre o trono ou sobre a palha; mas, ah! poucos sofrem bem; poucos compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzi-los ao reino de Deus. O desencorajamento é uma falta; Deus vos recusa consolações porque vos falta coragem. A prece é um sustentáculo para a alma, porém, ela não basta: é preciso que esteja apoiada sobre uma fé viva na bondade de Deus. Freqüentemente, ele vos disse que não colocava fardos pesados em ombros fracos; o fardo é proporcional às forças, como a recompensa será proporcional à resignação e à coragem; maior será a recompensa quanto a aflição não seja penosa; mas essa recompensa é preciso merecê-la, e é por isso que a vida está cheia de tribulações.
O militar que não é enviado ao campo de batalha não fica contente, porque o repouso da retaguarda no acampamento não lhe proporciona promoção; sede, pois, como o militar e não desejeis um repouso em que o vosso corpo se enfraqueceria e a vossa alma se entorpeceria. Ficai satisfeitos quando Deus vos envia à luta. Essa luta não é o fogo da batalha, mas as amarguras da vida, onde é preciso, algumas vezes, mais coragem do que num combate sangrento, porque aquele que ficaria firme diante do inimigo, se dobrará sob o constrangimento de uma pena moral. O homem não é recompensado por essa espécie de coragem, mas Deus lhe reserva louros e um lugar glorioso. Quando vos atinge um motivo de inquietação ou de contrariedade, esforçai-vos por superá-lo, e quando chegardes a dominar os ímpetos da impaciência, da cólera ou do desespero, dizei-vos com justa satisfação: “Eu fui o mais forte.”
Bem-aventurados os aflitos pode, pois, ser traduzido assim: bem- aventurados aqueles que têm oportunidades de provarem sua fé, sua firmeza, sua perseverança e sua submissão à vontade de Deus, porque terão em cêntuplo a alegria que lhes falta na Terra, e depois do trabalho virá o repouso. (LACORDAIRE, Havre, 1863).