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230 - CAP. II - MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO - item 5-7 - O Ponto de Vista


O PONTO DE VISTA

5. A idéia clara e precisa que se faz da vida futura dá uma fé inabalável no futuro, e essa fé tem conseqüências imensas sobre a moralização dos homens, quando muda completamente o ponto de vista sob o qual eles examinam a vida terrestre. Para aquele que se coloca, pelo pensamento, na vida espiritual que é indefinida, a vida corporal não é mais que uma passagem, uma curta estação num país ingrato. As vicissitudes e as tribulações da vida não são mais que incidentes que recebe com paciência, porque sabe que não são senão de curta duração, e devem ser seguidos de um estado mais feliz; a morte nada mais tem de apavorante, e não é mais a porta do nada, mas a da libertação que abre, ao exilado, a entrada de uma morada de felicidade e de paz. Sabendo que está em um lugar temporário, e não definitivo, recebe as inquietações da vida com mais indiferença, e disso resulta, para ele, uma calma de espírito que lhe atenua a amargura.




Pela simples dúvida sobre a vida futura, o homem dirige todos os seus pensamentos sobre a vida terrestre; incerto do futuro, dá tudo ao presente; não entrevendo bens mais preciosos que os da Terra, ele é como a criança que não vê nada além dos seus brinquedos; para obtê-los não há nada que não faça; a perda do menor dos seus bens é uma tristeza pungente; uma decepção, uma esperança frustrada, uma ambição não satisfeita, uma injustiça de que é vítima, o orgulho ou a vaidade feridos são igualmente tormentos que fazem da sua vida uma angústia perpétua, dando-se, assim, voluntariamente, uma verdadeira tortura de todos os instantes. Tomando seu ponto de vista da vida terrestre, no centro da qual está colocado, tudo toma ao seu redor proporções vastas; o mal que o atinge, como o bem que compete aos outros, tudo adquire, aos seus olhos, uma grande importância. Ocorre o mesmo com aquele que está no interior de uma cidade, onde tudo parece grande: os homens de projeção, como os monumentos; mas, que se transporte para sobre uma montanha e, homens e coisas, vão lhe parecer bem pequenos.




Assim ocorre com aquele que encara a vida terrestre sob o ponto de vista da vida futura: a Humanidade, como as estrelas do firmamento, se perde na imensidão; ele se apercebe, então, que grandes e pequenos estão confundidos como as formigas sobre um torrão de terra; que proletários e potentados são do mesmo talhe, e lamenta esses homens efêmeros que se dão tanta inquietação para conquistar um lugar que os eleve tão pouco e que devem manter por tão pouco tempo. É assim que a importância atribuída aos bens terrestres está sempre na razão inversa da fé na vida futura.




6. Se todo o mundo pensasse desse modo, dir-se-á, ninguém se ocupando mais com as coisas da Terra, tudo periclitará. Não; o homem procura instintivamente seu bem estar, e, mesmo com a certeza de não estar senão por pouco tempo num lugar, ainda quer aí estar melhor, ou o menos mal possível ; não há ninguém que, achando um espinho sob sua mão, não o tire para não ser picado. Ora, a procura de bem-estar força o homem a melhorar todas as coisas, possuído que está do instinto do progresso e da conservação, que está nas leis da Natureza. Ele trabalha, pois, por necessidade, por gosto e por dever, e nisso cumpre os desígnios da Providência que o colocou sobre a Terra para esse fim. Somente aquele que considera o futuro, não atribui ao presente senão uma importância relativa, e se consola facilmente com seus fracassos pensando na destinação que o espera.













Deus não condena, pois, os prazeres terrestres, mas o abuso desses prazeres em prejuízo das coisas da alma; é ainda contra esse abuso que estão prevenidos aqueles que se aplicam estas palavras de Jesus: “Meu reino não é deste mundo.”




Aquele que se identifica com a vida futura é semelhante a um homem rico que perde uma pequena soma sem com isso se perturbar; aquele que concentra seus pensamentos sobre a vida terrestre é como um homem pobre que perde tudo o que possui e se desespera.




7. O Espiritismo expande o pensamento e lhe abre novos horizontes; em lugar dessa visão estreita e mesquinha que o concentra sobre a vida presente, que faz do instante que passa sobre a Terra a única e frágil base do futuro eterno, ele mostra que essa vida não é senão um elo no conjunto harmonioso e grandioso da obra do Criador; mostra a solidariedade que liga todas as existências do mesmo ser, todos os seres de um mesmo mundo e os seres de todos os mundos; dá, assim, uma base e uma razão de ser à fraternidade universal, enquanto que a doutrina da criação da alma no momento do nascimento de cada corpo, torna todos os seres estranhos uns aos outros. Essa solidariedade das partes de um mesmo todo explica o que é inexplicável, se se considerar apenas uma parte. É esse conjunto que, ao tempo do Cristo, os homens não teriam compreendido e, por isso, ele reservou o conhecimento para outros tempos.




Texto extraído do O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO - Allan Kardec Editora IDE.




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